Torcida inteligente

É inacreditável como, às vezes, o excesso de passionalismo consegue transformar torcedores em “magistrados” severos, implacáveis e, na maior parte dos casos, mal informados – aqueles que, pelo menos em tese, deveriam permanecer ao lado do time de sua preferência de forma incondicional, ou, de outro modo, o termo “torcedor” passa a ter muito pouco significado. É impressionante como derrotas para adversários tradicionais e venda de jogadores supostamente imprescindíveis adquirem o poder de alterar, de modo radical, o humor; o comportamento de algumas torcidas. Um exemplo: o que, em termos práticos e objetivos, mudou para o Corinthians com a derrota sofrida para o Palmeiras no domingo passado (26/07)? Vamos refletir? Antes daquele jogo, a equipe estava na quarta colocação do Campeonato Brasileiro; após o jogo, manteve-se entre os quatro primeiros. Antes do jogo, o time era campeão paulista invicto, campeão da Copa do Brasil, o único time brasileiro classificado à libertadores de 2010; após o jogo, óbvio, nada disso mudou! Então, qual o motivo de tanto “rigor” crítico; de tanta exacerbação por parte de uma considerável parcela da Fiel Torcida e, também, da mídia tendenciosa? É bastante oportuno não esquecer que até o ano passado (2008) o Timão estava na série B. Portanto, num intervalo pouco superior a um ano o time voltou à série A, conquistou dois títulos extremamente relevantes e adquiriu o direito de disputar a mais importante competição sul-americana no ano em que o clube completará o centésimo aniversário (sem mencionar o vice-campeonato da Copa do Brasil de 2008 e a boa participação no Paulistão do mesmo ano). Sendo assim, por que tanta reclamação? Alguns afoitos poderão dizer: “é, mas o André Santos, o Cristiam, e o Douglas foram vendidos...”. Ora, não é essa a “estrutura” do futebol brasileiro? O Timão não pode ser responsabilizado pela equivocada tradição de nosso futebol de insistir no modelo anômalo de “exportação de craques”. Além do mais, até prova em contrário, o negócio foi excelente para todas as partes envolvidas. De fato, criticam demasiadamente a venda desses três jogadores, entretanto esquecem de mencionar as ótimas contratações do meia Edu (craque que retorna à equipe, após várias temporadas extremamente bem-sucedidas na Europa) e do atacante Bill (um dos artilheiros da série B de 2009). Todos os times brasileiros, nesta época do ano, têm que negociar jogadores. O Internacional, por exemplo, recentemente vendeu o Nilmar. Não me lembro de nenhum clamor, de nenhuma crítica exacerbada a respeito – ao contrário, a venda do jogador foi divulgada pela mídia como um negócio excepcional; uma verdadeira demonstração de “eficácia empresarial”. Curioso, não?! Nessas ocasiões, “vozes estranhas” bradam, vociferam. Contudo, muitas delas nada têm a ver com os efetivos interesses de clubes e, muito menos, torcedores. Como todos sabem, o principal objetivo do Timão em 2009 já foi alcançado, ou seja, o direito de participar da Libertadores no ano em que o clube completará cem anos (o Centenário). Na verdade, o Corinthians possui tempo muito mais do que o suficiente para se reestruturar e se reforçar até 2010. Certamente outros atletas serão contratados; é só uma questão de tempo – o tempo certo, claro. A verdade é que o Corinthians está começando a romper o paradigma, até aqui vigente, de que apenas o Tricolor do Morumbi realiza “bons negócios” futebolísticos. Portanto, evidentemente, interesses contrários ao sucesso comercial e organizacional do Timão irão se opor às movimentações do time do Parque São Jorge nessa área; a disputa por oportunidades é acirrada e o mercado do futebol é diminuto. Se a conquista do pentacampeonato brasileiro ocorrer, ótimo. Porém, a lógica e a racionalidade levam a crer que o Corinthians não tem nenhuma obrigação de perseguir tal objetivo. Podemos considerar que o Brasileirão de 2009 deve ser encarado como algum tipo de “laboratório de luxo”, visando a implementação de uma grande temporada no próximo ano. No meu modesto entendimento, essa é a conduta mais lógica e inteligente a ser adotada por torcedores, dirigentes e profissionais do Sport Club Corinthians Paulista.

DVD do Carvalho: covardia colorada!

O vice-presidente de futebol do Internacional, Fernando Carvalho, quer ganhar a Copa do Brasil no grito, coagindo a arbitragem. De maneira espúria, apócrifa resolveu distribuir à imprensa um DVD com imagens que provariam que o Timão tem sido beneficiado pelos árbitros. O dirigente colorado precisa olhar para o próprio umbigo antes de lançar calúnias contra os adversários. F Carvalho deve explicar a relação promíscua existente entre o seu time e Kia Joorabchian – dono do passe de vários jogadores do Inter. Deve vir a público e prestar esclarecimento, também, sobre quem é que paga os régios salários do Sr. Nilmar. O Internacional? Como? Com rendas de partidas de futebol proporcionadas pela mediana torcida do Colorado? Com direitos de transmissão de jogos que apenas uma pequena parcela do telespectador gaúcho assiste? Quem paga os polpudos salários de Nilmar, Magrão e D’Alexandro, entre outros? Belo “enigma”, hein? De fato, é muito pouco provável que o time sulista tenha envergadura econômica e financeira suficientes para arcar com todos esses compromissos. O passe do Nilmar, por exemplo, pertence à “MSI”. Pasmem! Portanto, Sr. Fernando Carvalho, deixe de parvoíce e aceite o resultado dos jogos obtido dentro de campo, com hombridade; com esportividade. O Timão venceu o primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 2009 licitamente; de maneira cabal, incontestável. A retumbante vitória foi por dois a zero, mas poderia ter sido três ou até quatro a zero.

Em defesa do gigante Mano Menezes

Lamentavelmente, nas proximidades da epopéica decisão da Copa do Brasil de 2009, entre Corinthians e Internacional, alguns incautos levantaram uma questão, no mínimo, inoportuna: “Mano Menezes deve ficar ou, após o jogo final, deve ser substituído por Muricy ou Luxemburgo?”. Proposição absolutamente esdrúxula. O Timão não precisa do Muricy Ramalho, muito menos do Luxemburgo. Mano Menezes vem realizando um trabalho excepcional; um trabalho sério, fundamentado em metodologias profissionais de planejamento. Tem demonstrado ser um especialista em estratégias de gestão. Dirigindo o Grêmio, um time medíocre na época, conseguiu chegar à final da Libertadores. Imaginem o que poderá conquistar com a melhor equipe do Brasil no momento, o Sport Club Corinthians Paulista; time que
ele montou, peça por peça, num processo de reconstrução árduo após o rebaixamento. Falar em mudança de técnico agora, às vésperas da final da Copa do Brasil, constitui, no mínimo, demonstração de falta de inteligência e, sobretudo, pouco – ou nenhum – conhecimento a respeito do tema futebol. Mano é o técnico do Corinthians e continuará sendo. Não precisamos da falta de ética do Luxa; não precisamos da hipocrisia e dissimulação do Muricy Ramalho (que está de olho no cargo do Dunga e tenta convencer a todos, de maneira esquizofrênica, do contrário). Quem defende essa tese pífia, tosca, joga contra o próprio patrimônio, ou seja, o Corinthians. Existem aqueles que se dizem torcedores, mas que, muitas vezes, não passam de oportunistas a defenderem interesses escusos (quem sabe, técnicos ou torcidas adversárias). Mano Menezes fica; o excelente treinador é peça fundamental no projeto do Timão para o ano de 2010; o tão aguardado ano do Centenário alvinegro.

A dura realidade do mercado olímpico

É triste, realmente muito triste, constatar a maneira como o esporte olímpico brasileiro tem sido “administrado” até aqui. De um lado, a histórica falta de investimentos do setor público e privado – salvo raras e honrosas exceções (é bastante oportuno lembrar que o atual governo tem feito o possível, através do Ministério do Esporte sob a gestão eficaz do ministro Orlando Silva); de outro, os oportunistas, “marqueteiros” e ufanos de plantão. Aqueles que, nos quatro anos que antecedem as competições, simplesmente ignoram nossos atletas; e, ao iniciarem os jogos olímpicos, põem-se a inventar ídolos e heróis sempre com o espúrio propósito de aumentar índices de audiência ou venda de jornais e revistas. Empregando as mais toscas patriotadas, tentam envolver a opinião pública num clima falso de “amor ao país”. O resultado, óbvio, é sempre frustrante. Nossos atletas, quase sempre heróis anônimos e abnegados, não podem corresponder às expectativas. Ficamos, então, com uma profunda sensação coletiva de incompetência e desânimo – o que, venhamos e convenhamos, também é absolutamente falso e injusto. Senão, vejamos: vôlei, com um mínim de interesse e investimento, melhor do mundo; judô, através de valorosas iniciativas individuais, medalhas olímpicas e campeonatos mundiais; ginástica olímpica, com Diego Hipólito, Daiane dos Santos; atletismo, com Jadel Gregório, entre inúmeros outros exemplos de abnegação e competência, consolidam a tese. O fato ocorrido recentemente com as jogadoras de vôlei do Finasa Osasco (SP) pode e deve ser utilizado como exemplo clássico e cabal com o propósito de evidenciar o modo oportunístico como os esportes amador e olímpico são “geridos” no Brasil. A parceria com o grupo Bradesco foi extinta, após 20 anos de existência. Enquanto o time representou fonte de lucro e dividendos aos patrocinadores, foi mantido; entretanto, sob o pretexto do acirramento dos efeitos da crise econômica internacional no país, os empresários não tiveram o menor escrúpulo: extinguiram a equipe. Jogadoras como Carol Albuquerque, Sassá, Thaísa e Paula Pequeno foram tratadas como objetos descartáveis. É importante ressaltar que as quatro atletas receberam medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim, cabendo observar, ainda, que Paula Pequeno foi eleita a melhor jogadora da competição. Quando os esportes olímpicos deixarão de ser tratados com descaso e hipocrisia? Quando deixarão de prevalecer ações de
oportunismo ou interesses efêmeros, imediatistas? Quando, enfim, o país irá despertar e assumir sua intrínseca vocação de potência olímpica?

Campeões do Brasileirão!

Venho acompanhando, um tanto abismado, os contumazes encômios acerca dos famigerados títulos nacionais conquistados pelo “glorioso” Santos Futebol Clube (entre outros times) na década de sessenta do século passado. Fico estarrecido diante da constatação do nível que pode atingir esta verdadeira idiossincrasia representada pelo interesse extremado do brasileiro em relação ao “nobre esporte bretão”. Faço questão de deixar bem claro: não me excluo desse universo de “futebolistas psicóticos e bem-intencionados”. Contudo, até idiossincrasias têm limites. Venhamos e convenhamos, atribuir a competições realizadas há mais de meio século com times que não representavam o futebol brasileiro como um todo – já que apenas alguns estados tinham “direito” de participar – a mesma relevância do atual Campeonato Brasileiro é, no mínimo, um total desapreço à lógica, à racionalidade; efetivamente constitui um acinte aos clubes que, desde 1971 (data em que foi criado o Brasileirão nos moldes em que o conhecemos atualmente), disputam o mais difícil e acirrado campeonato nacional do planeta; competição que conta com os melhores jogadores, os melhores técnicos e times provenientes de todos os estados da federação; competição que forja e exporta talentos, movimentando, portanto, milhões de dólares em transações e transferências de jogadores, sobretudo, para o mercado europeu. Comparar o atual Campeonato Brasileiro – com toda sua estrutura e organização (questionáveis ou não) – a torneios realizados no século XX, representa um brutal disparate; um verdadeiro desafio ao exercício salutar do pensamento lógico. Significa, em outras palavras, menosprezar toda mobilização competitiva envidada pelas agremiações que disputam o campeonato desde sua implantação; equipes que entram na competição motivadas pela possibilidade de colocar seus respectivos estados em evidência com a conquista do título; que se organizam, na grande maioria dos casos, com enormes sacrifícios (econômicos, financeiros, logísticos e humanos) visando o ascenso à chamada divisão de elite; que competem pressionadas psicológica e emocionalmente pela possibilidade de se encontrarem, no final da temporada, expostas ao vexatório contexto do rebaixamento. A Taça Brasil (posteriormente Robertão) não mantinha regulamentos claros; ninguém sabia ao certo como as equipes ascendiam; quando um time era rebaixado o retorno sempre ficava envolto num absoluto mistério; os questionamentos, as incógnitas eram freqüentes, mas acabavam entrando para o imaginário folclórico dos torcedores e da crônica esportiva (caixas de sapato, árbitros a ordenarem cobranças de pênaltis várias vezes consecutivas, até que o gol ocorresse, etc.). Os dirigentes eram outros, a mentalidade organizacional era outra, a instituição que dirigia o futebol também era outra: CBD - Confederação Brasileira de Desportos, fundada em 20 de agosto de 1919, era a entidade responsável pela organização de todo esporte no país. Ou seja, o futebol não era auto-suficiente; era atrelado a interesses diversos, inclusive políticos (durante muito tempo fora empregado como estratagema de manipulação de massas pela ditadura militar). Na verdade, mesmo aqueles que propugnam a equiparação dos títulos, deixam por vezes escapar nas entrelinhas de suas apologias idéias que consolidam todos os argumentos aqui expressados: “o Robertão (1967-70) é o pai do Brasileirão – um campeonato de fato, quase sempre com regulamentos discutíveis, clubes igualmente convidados”, segmento de texto do jornalista Mauro Beting, publicado em seu blog hospedado pelo site LANCE.NET. É como comparar Pelé com Maradona; Garrincha com Rivelino: são comparações iníquas, sustentadas por argumentos altamente sofísticos. Evidentemente, vale ressaltar, isso não significa que as conquistas de Bahia, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense devam ser, simplesmente, desconsideradas. Muito pelo contrário; são legítimos campeões... Mas campeões da Taça Brasil, Taça de Prata (talvez a maior das “incógnitas” daquela época) e do torneio Robertão. Se resolvêssemos consolidar e adotar a linha de raciocínio proposta, times como o Corinthians, por exemplo, poderiam reivindicar os títulos referentes aos torneios Rio-São Paulo (1950, 1953, 1954, 1966 e 2002) e, ainda, as duas conquistas relativas à Copa do Brasil (1995 e 2002): a Copa do Brasil por ser uma competição nacional; o torneio Rio-São Paulo por ter se mantido, durante muito tempo, com status de campeonato brasileiro (na verdade, a competição deve ser considerada o início do torneio Roberto Gomes Pedrosa). Portanto, o Timão deveria ser reconhecido, segundo essa ótica, como hendecacampeão, ou seja, onze vezes campeão brasileiro. Como podemos observar, tratam-se de argumentos, no mínimo, ambíguos e, efetivamente, bastante questionáveis. Bobagens, sandices. Campeões brasileiros, são apenas aqueles que passaram a disputar o Brasileirão a partir de 1971 (Corinthians, Flamengo, São Paulo, Internacional, Grêmio, Atlético Mineiro, etc.). O resto é falácia e paixão exacerbada; tentativas de atribuir grandezas indevidas, distorcendo fatos esportivos historicamente registrados e documentados.

Pantomimas tricolores

Quem me desculpem alguns amigos torcedores do São Paulo, mas não posso olvidar a anedota (perder a piada, claro!). O Sr. Muricy Ramalho, antes – na verdade bem antes – do segundo jogo entre São Paulo e Corinthians, que definiria um dos times que iriam à final do Paulistão, declarou inusitada e curiosamente “Bom, os mandantes venceram o primeiro jogo, portanto a final será entre São Paulo e Palmeiras”. Interessante a linha de “raciocínio” do ilustre técnico Tricolor, diga-se de passagem, imediatamente corroborada pela cúpula são-paulina. É uma pena, entretanto, que tais palavras não passassem de mera falácia, o mais puro axioma; dignas de figurarem como modelo nas aulas de lógica elementar dos cursos de filosofia. Nosso incauto treinador não seguiu a “sábia” máxima de um certo
apresentador de programas esportivos “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa...”. O tempo passou, os jogos ocorreram... Resultado: Palmeiras 1X2 Santos; São Paulo 0X2 Corinthians. Ou seja, exatamente o contrário das toscas pantomimas vociferadas pelos dirigentes tricolores. Que coisa, não!

Acessaurus Lentus

Quem já ouviu falar do AcessaSP? Em tese, a expressão suscita dinamismo, agilidade, mobilidade. Ainda que não conheçamos o fato de que se trata de um programa mantido pelo governo tucano de São Paulo – cujo propósito consiste em acelerar o processo de inclusão digital às camadas da população mais carentes de recursos econômicos e financeiros – tais palavras, idéias e conceitos, de maneira automática, nos vêm à mente; de modo natural. De um programa que se propõe a oferecer facilidade de acesso à inernet para um número tão grande de cidadãos na verdade é o mínimo que se espera: dinamismo, agilidade, etc. Simples, não? Nem tanto. No mês de agosto de 2007, portanto há um pouco mais de um ano e meio, foi inaugurado nas dependências da estação São Bento do Metrô um novo posto do programa. Na época, o governo do PSDB alardeou o fato como se fosse a inauguração não apenas de uma nova unidade de um determinado programa social, mas de uma verdadeira “revolução” em termos de ações direcionadas ao chamado processo de inclusão digital. Será? Quem teve o infortúnio de tentar usufruir do serviço definido como revolucionário, certamente, decepcionou-se. Claro, fui um desses ignotos incautos. Estava no centro da cidade e, como não disponho de sistema móvel, necessitava recorrer a uma Lan House ou Syber Café. Contudo, alguém informou-me sobre a existência do dito programa e do respectivo posto que se localiza na estação São Bento. E lá fui eu todo crédulo e faceiro. Meus problemas começaram exatamente nesse ponto. Acessa São Paulo? Como assim? Pelo menos no que diz respeito àquela unidade o nome não faz o menor sentido. Primeiro, ninguém conhece sua existência. Portanto, acessar o quê? Tudo bem; por algum milagre o sujeito consegue descobrir que existe um posto do AcessaSP na estação São Bento do Metrô. Ótimo! E agora? Onde, em qual ponto da estação? “Fica embaixo da escada...”. Lacônica e açodadamente é como o segurança da estação te responde. Mas onde fica a ditosa escada?! Lá vai o pobre, então, ziguezagueando pela estação até localizar a tal escadaria. A visão é estarrecedora. O posto (aquele mesmo, o da revolução digital) chega a causar arrepios. Num lugar que mais parece um porão obscuro do que um espaço público destinado ao acesso gratuito de recursos tecnológicos, está formada uma enorme fila. Com os semblantes combalidos, cabisbaixos, os “usuários” do sistema aguardam desanimados. “Primeiro o senhor tem que preencher uma ficha...”. É o que diz a funcionária com a cabeça baixa; no mais característico estilo do funcionalismo público anacrônico. A ficha, na verdade, é um amplo e burocrático questionário. “Agora, o senhor tem que esperar lá fora...”. Diz a funcionária, óbvio, com a cabeça mais baixa do que antes. Durante os cerca de cinqüenta minutos que fiquei esperando, pude observar atentamente os “equipamentos” e as dependências do posto revolucionário da propaganda oficial. Equipamentos: mais ou menos dez microcomputadores absolutamente ultrapassados; quatro dos quais não estavam funcionando. Havia uma impressora, mas, pasmem, com uso restrito – na verdade quase impeditivo. Dependências: o posto fica embaixo da escadaria que dá acesso à rua Sta. Efigênia (mais abafado impossível). O lugar é escuro e obscuro e, diga-se de passagem, um tanto úmido. Além disso, localiza-se ao lado dos sanitários públicos fétidos e imundos (acreditem se quiser). Pude notar, ainda, que algumas luminárias estavam simplesmente danificadas e outras tantas piscando. Tal contexto criava um ambiente de lusco-fusco totalmente inadequado às atividades relacionadas à informática. Finalmente chegou a minha vez. Entrei. Claro, aguardei mais quinze minutos até que meu cadastro fosse consolidado. Ocupei o meu lugar. Liguei o micro e... Não é que o danado travou! Sendo assim, pergunto: acessa São Paulo? Conta outra.

Raposas felpudas

Definitivamente a política tupiniquim, em não raros episódios, “presenteia-nos” com lampejos de puro surrealismo. Como se não bastasse a funesta constatação do avanço gradativo, porém bastante consubstanciado, das forças mais reacionárias de direita (até bem pouco tempo aparentemente dispersadas pelos ares revigorantes da democracia), proporcionando-nos o sombrio vislumbre do retrocesso (a vitória de Kassab, em terras bandeirantes, talvez seja o exemplo mais notório e cabal), eis que surge – ou se insurge – renascido das cinzas, soerguido de algum sarcófago perdido em nosso passado político nem tão remoto assim, recuperado por alguma lúgubre expedição arqueológica, o “excelentíssimo” senador (PTB) e ex-presidente Fernando Collor de Mello: com o apoio do PMDB de Renan Calheiros (retribuindo a composição que levou o senador José Sarney à conquista da presidência do Senado), Collor, quem diria, retorna ao cenário das disputas políticas mais relevantes e acirradas, ao assumir a presidência da Comissão de Infra-estrutura – uma das mais importantes do congresso, já que delibera, por exemplo, sobre matérias relacionadas aos recursos e obras do PAC. Parece brincadeira, mas, infelizmente, não é. Collor de Mello, que teve o mandato de presidente cassado pelo congresso, retorna agora em grande estilo, conduzido sob um majestoso tapete vermelho, por intermédio do mesmo parlamento pelo qual fora rechaçado. “É pra pensar, não é mesmo?!”. Sarney, um dos principais responsáveis por sua queda; Renan, homem forte de sua tropa de choque, esteio, sustentáculo, o último bastião, um dos últimos a abandonar o barco do presidente cassado. Pois bem: justamente os dois se uniram para viabilizar a “redenção” do ex-presidente. Collor foi politicamente linchado em praça pública; foi transformado em sinônimo de corrupção; a enantiose de todas as atitudes que não devemos assumir em termos de comportamento político. Contudo, não obstante a contundência de todas essas verificações, teremos que aturá-lo decidindo sobre o que é certo ou errado na consignação de orçamentos e programas de obras do PAC. “Cuidado, portanto! A raposa reassume o controle do galinheiro...”.