Raposas felpudas

Definitivamente a política tupiniquim, em não raros episódios, “presenteia-nos” com lampejos de puro surrealismo. Como se não bastasse a funesta constatação do avanço gradativo, porém bastante consubstanciado, das forças mais reacionárias de direita (até bem pouco tempo aparentemente dispersadas pelos ares revigorantes da democracia), proporcionando-nos o sombrio vislumbre do retrocesso (a vitória de Kassab, em terras bandeirantes, talvez seja o exemplo mais notório e cabal), eis que surge – ou se insurge – renascido das cinzas, soerguido de algum sarcófago perdido em nosso passado político nem tão remoto assim, recuperado por alguma lúgubre expedição arqueológica, o “excelentíssimo” senador (PTB) e ex-presidente Fernando Collor de Mello: com o apoio do PMDB de Renan Calheiros (retribuindo a composição que levou o senador José Sarney à conquista da presidência do Senado), Collor, quem diria, retorna ao cenário das disputas políticas mais relevantes e acirradas, ao assumir a presidência da Comissão de Infra-estrutura – uma das mais importantes do congresso, já que delibera, por exemplo, sobre matérias relacionadas aos recursos e obras do PAC. Parece brincadeira, mas, infelizmente, não é. Collor de Mello, que teve o mandato de presidente cassado pelo congresso, retorna agora em grande estilo, conduzido sob um majestoso tapete vermelho, por intermédio do mesmo parlamento pelo qual fora rechaçado. “É pra pensar, não é mesmo?!”. Sarney, um dos principais responsáveis por sua queda; Renan, homem forte de sua tropa de choque, esteio, sustentáculo, o último bastião, um dos últimos a abandonar o barco do presidente cassado. Pois bem: justamente os dois se uniram para viabilizar a “redenção” do ex-presidente. Collor foi politicamente linchado em praça pública; foi transformado em sinônimo de corrupção; a enantiose de todas as atitudes que não devemos assumir em termos de comportamento político. Contudo, não obstante a contundência de todas essas verificações, teremos que aturá-lo decidindo sobre o que é certo ou errado na consignação de orçamentos e programas de obras do PAC. “Cuidado, portanto! A raposa reassume o controle do galinheiro...”.

1 comentários:

Anônimo disse...

É, camarada. Há mais coisas entre a verdade e a mentira da política tupiniquim do que pode imaginar nosso "inútil" esclarecimento... Abraços!